É uma noite de agosto e faz muito calor em Lisboa. Estou na cama, deitada, pronta para dormir. Escuto as cigarras lá fora e lembro-me da minha infância, quando passava férias no interior de São Paulo. Estar na capital de um país e ouvir o som das cigarras em um bairro movimento é, para mim, um privilégio. Assim como senti-me privilegiada recentemente ao ver um bando de gaivotas a se despedirde mais um dia, sobrevoando o mar durante o pôr do sol na Costa da Caparica.
Lisboa me conquistou há quase 10 anos, quando vim para cá de férias pela primeira vez. Estar sempre em contato com a natureza é um dos motivos pelo qual me apaixonei pela cidade. Não me canso de admirar a beleza do rio Tejo quando passeio pelo Cais do Sodré, zona totalmente remodelada e atualmente com um ar super moderno.
Adoro que haja sempre uma brisa nas noites de verão e que o inverno aqui não seja tão rigoroso como em outros países europeus. Atravessar a Ponte 25 de Abril e de repente, estar na praia, é um presente. Nunca me canso de passar de carro por Belém e admirar o Mosteiro dos Jerônimos, a Torre de Belém, a arquitetura do MAAT, e novamente ele, o Tejo.
Lisboa para mim é uma velha senhora que busca cada vez mais mostrar a menina que existe dentro de si. A senhora lisboeta vive nas casas de Alfama, na arquitetura histórica, na comida tradicional, nos vinhos, em tudo aquilo que aqui está há centenas de anos.
A menina lisboeta aparece cada vez mais: está na alma dos cafés cheios de estilo e menus saudáveis que já estão virando a marca dessa “nova Lisboa”; está nas “concept stores”, lojas que vendem produtos modernos e muitas vezes, sustentáveis; está nos lindos grafites espalhados por muitos muros e colorindo ainda mais a nossa velha e querida cidade.
Este misto do velho com o novo, do antigo com o moderno, é para mim o que faz Lisboa ser Lisboa. Cada nova caminhada por essa cidade, onde vivo de fato há 1 ano, me traz uma surpresa – seja um lindo conjunto de azulejos antigos na fachada de um prédio ou um restaurante recém-inaugurado.
Esses detalhes são para mim essenciais no dia-a-dia: preciso constantemente lembrar que eles existem, mesmo quando a burocracia parece querer falar mais alto (e haja burocracia!), mesmo quando vejo a falta de postos de trabalho, mesmo quando vejo mais uma greve no setor de saúde ou nas escolas, mesmo quando vejo os preços dos aluguéis subindo cada vez mais.
Não existem lugares perfeitos e Lisboa, perfeita, com certeza não é. Mas tudo bem, desde que sempre tenhamos os bandos de andorinhas e de gaivotas a nos presentearem com seus belos voos ao fim da tarde…
Leda Letra é jornalista. Em Lisboa, está se reinventando: é co-fundadora da 60 Graus, uma lavanderia moderna (@60grauslaundry) e também faz gestão de apartamentos para estadias de curta temporada (@hi_lisboa).
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